quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ultimo olhar.

Estava tão escuro, não podia ver nada, não sabia oque estava acontecendo. Repentinamente um flash forte, nauseânte.
Fiquei cego por alguns segundos, e assim que recuperei a visão tudo que podia ver era aquela luz.
Tão branca, tão aconchegante, tão familiar.
Fechei meus olhos e me deixei levar. Ela se aproximava mais de mim, se tornando cada vez mais forte, tanto que podia ve-la mesmo de olhos cerrados.

Em poucos instantes toda minha vida passou pela minha frente. Não eu não lembrei de cada segundo, foi algo diferente.
Eu estava lá des do meu nascimento, me vendo como se fosse outo alguem. Mas sabia que era eu mesmo.
Ví aquela criança sair do ventre de sua mãe.
Acompanhei de perto seus primeiros passos.
Passei a segui-a diariamente.
Presenciei a primeira paixão de sua vida.
Assim como seu primeiro encontro com a morte.

Mas a criança cresceu.
Deixou de ser um pequeno bêbe chorão.
Se tornou verdadeiramente forte.
Tinha total controle das suas emoções e um pensamento analítico.
Isso fez com que ela fosse longe na vida.

Alguns passos além do esperado e mesmo do que lhe era previsto nas linhas cosmicas.
Talvez passo para a direção errada. Alguns passos tortos sem direção.
Mas sim, a criança se tornou poderosa. Foi amaldiçoada com poderes inumanos.
Seu sangue se tornou gelo, e seu coração uma pedra inestimável.

Alguns demônios cruzaram seu caminho e nunca caminharam novamente.
Outros foram adotados como amigos eternos.
Houve um incidente em particualar com uma princ. . .

Uma forte Luz me cegou.
Não tinha forças para abrir os olhos novamente.
Sentia tanta dor. Minha cabeça doia, meu corpo inteiro estava imóviel devido a dor.
Depois de muito esforço consegui abrir meus olhos, e fiquei cego novamente com a luz.
Mas essa era diferente. Minto essa luz era completamente normal. Vinha de lâmpadas normais.
Olhei a minha volta com o pouco que meus olhos conseguiam se mover.
Apenas vî uma velha senhora adormecida.
Tentei falar, mas minhas cordas vocais pareciam ter sido rasgadas.
Quanta dor...

Tudo foi escuridão novamente.
Um terror que parecia não ter fim.
E então uma sensação de alívio que não poderia ser igualada a nada dentre o mundo humano.
Abri os olhos novamente, e via as coisas de maneira clara.

Estava em um quarto de hospital, uma janela grande, com cortinas brancas muito limpas, emitia toda a luz que iluminava o local. Sobre a mesa de cabeceira haviam diversos livros, juntos a um jarro com flores. Estranhamente não consegui ler os títulos dos livros, mas aquelas flores me eram conhecidas, margaridas, sim com certeza eram margaridas. No canto oposto a janela uma velha senhora estava em uma cadeira de balanço cochilando. Suas roupas denominavam sua descendência humilde, usava um vestido florido com um fino xale por cima. Parecia tão frágil e ao mesmo tempo que suportava todo um mundo nas costas. Novamente movi meus olhos pelo quarto, finalmente parando-os sobre a cama. Não teria como não o notar. Que exemplar fraco, parecia um homem que a muito havia perdido o desejo por viver. Alguem que perdeu tudo, des de seus sonhos e anbições até o amor pela vida. Mesmo não tendo mais do que 35 anos estava desgastado pelo tempo desperdiçado, aparentava ter em torno de 50 anos. Aquele estranho me era tão familiar, tanto que não conseguia sentir pena dele. Mesmo assim uma lágrima escorreu dentro meus olhos. Esta lágrima desceu por todo meu rosto caindo em direção ao chão. A vi cair, silenciosamente, bem deagar. Se assim fosse do meu desejo poderia pega-la antes de tocar o chão. Mas não havia porque faze-lo. Apenas observava minha lágrima que caiu por um desconhecido, ela que refletia a luz emitida pela janela, essa que absorvia o perfume das margaridas. Tão bela, tão pura. Então quando ela finalmente tocou o chão eu finalmente entendi. Pude finalmente ver quem era aquele homem decrepto.

Hávia muito tempo que não me olhava assim.
Minhas lágrimas secaram. Não havia motivo de fazer alguem sofrer novamente. Andei alguns passo até aquela senhora, dei-lhe um ultimo beijo na testa. Então parti para a luz que me era oferecida por aquela linda cena.
Hesitei por um momento, olhei para traz e vi o monitor cardíaco emitir um agudo e sequencial zunido, vi também quando ela se ergueu e pediu ajuda a algumas pessoas que trajavam branco. A ultima coisa que percebi foi um deles dizendo algo como: " Hora da morte 3:20 da manhã."

Bem foi melhor assim ... e continuei seguindo para a tão iluminada janela.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Reflexo eterno.

Diariamente me olho no espelho.
Fixamente e sempre vejo o vazio dos meus olhos, um olhar frio sem amor, ou compaixão.
Olhos de quem nunca teve paixão na vida, um olhar que se confunde com a paisagem que vivo.

Mas alguma coisa diferente aconteceu, algo modificou minha serena e inóspita paisagem.
Um ser vivente teve a ousadia de adentrar em meu reduto de solidão. Uma pequena princesa perdida teve a ousadia de entrar em meu reino. Passando pela muralhas gélidas, eu pude sentir o calor de seu corpo, da sua alma. Derrentendo em segundos cada bloco de gelo que levei dias para contruir, aquecendo cada vez mais a minha fria solidão. Mesmo que ainda distante, eu já posso sentir-la . Ela entrou em minha vida de maneira inesperada. Eu ainda a observo de longe, sem saber se ela entrará na minha sombria e solitária torre.

Ela não entendera porque quando tocará aquela muralha tudo se tornou água. Ainda não compreendia o poder interno que possuia. Apenas estava a andar, passear sem um rumo certo , quando avistou ao longe uma torre e se sentiu estranhamente atraída por ela. Ao atravessar os muros, se deparará com um labirinto intransponivel. Contudo ela não podia desestir de seu desejo.

Eu podia ver tudo de onde estava, vi quando ela derreteu minhas fronteiras. A vi entrar no labirinto, e tive pena dela pelo que estava por encarar. Mas ao mesmo tempo não podia deixa-la desaparecer para todo o sempre. Ela me encantara com seu radiante brilho, seu calor sobrenatural, por ser o oposto de mim. Ela estava perdida mas ainda havia esperança, se ela não encontrasse com aquilo poderia sair de lá com vida.

Ela se encontrava já a alguns metros da entrada do labirinto. Metros suficientes para que não lembrasse mais o caminho de volta. Não mais podia ver a torre por entre as sebes, a noite chegara de maneira inesperada. Tudo era uma grande escuridão sem fim. Uma jornada sem certeza de êxito. Mas ainda assim sentia que era seu destino. Isso, até que porventura do acaso, ao retornar de um caminho sem saída, escutou aquilo que parecia ser um homem andando. E assim foi ao encontro de seu destino.

Eu sentia o caminho que ela fazia e orava por sua vida, mesmo sabendo que se continuasse por esse rumo não a teria por muito tempo. Finalmente me senti obrigado a interferir. Ainda restava algum tempo para que eu pudesse salva-la. Deveria encontrar a única magia que nunca antes tive coragem de usar. Algo além da minha compreensão completa, algo que desafiava toda lógica existente dentre o meu ser. Angustiado, por não mais poder vê-la, mas principalmente pela falha que me persegue a cada segundo. Por que diabos não poderia eu salva-la? Qual o motivo de saber que o seu fim se aproxima e não poder fazer nada para impedir? Porque tamanho poder me foi oferecido? E a qual custo?

Ela andara por uma eternidade. Sua noção de tempo e espaço se fazia inexistente. Seu desgaste a cada passo era como de uma jornada a terras muito distantes, e cada segundo se fazia uma eternidade. Chegara finalmente ao centro do labirinto, lugar o qual seu destino lhe esperava. Olhou a sua volta e apenas via espelhos, vários espelhos. Se olhava em cada um e via se reflexo de formas diversas, mas consciente de ser ela mesma. Fixou os olhos no espelho a sua frente...

Ela olhava fixamente para seu reflexo e ao mesmo tempo se questionava se essa era realmente ela. Tudo parecia diferente, seus cabelos ruivos ao reflexo eram loiros, e seu vestido vermelho scarlat nada mais era que um rosa fraco sem vida. Mas uma coisa lhe dava certeza que não podia ser outra pessoa além dela mesma. Aquele olhar, com poder, com força, com amor. Talvez aquela do outro lado do espelho ainda não soubesse de suas habilidades, mas sim era ela. Aquela visão dela mesma lhe atormentava. Porque aquele espelho lhe mostrava uma encarnação passada? O que havia de ocorrer com ela para que não cumprisse sua missão!?

Ela olhava curiosa para aquela bela mulher de vermelho. Se viu atraída por ela. Foi impossível resistir à tentação de tocar lhe. Quando ouviu um estranho barulho, algo indefinido pelos seus sentidos. Se virou e viu um turbilhão de luz, uma luz branca e azulada. Fria, muito fria. E então de dentro da Luz saiu um estranho homem.

Quando eu consegui chegar até ela , não havia mais nada há fazer. Aquela mulher já estava perdida. A minha esperança se esvaia por dentre meus dedos. Eu a vi sendo absorvida pelo espelho, sendo absorvida pela Dama de Vermelho. Sendo levada á uma era onde meus poderes jamais conseguiriam me fazer segui-la.
As lágrimas escorriam por meus olhos, se se faziam gelo em menos de um segundo. Tentei tocar o espelho mais ao tentar faze-lo o local congelava antes mesmo que eu conseguisse toca-lo. Ela me olhava e via meu desespero. Eu a olhava e via minha esperança, morta.

Retornei à minha torre, com o espelho sob meus braços, adentrei a meus aposentos e pendurei o mesmo. Mais um dentre os milhares que já existiam.

Diariamente ela se olha no espelho.
Fixamente e sempre vê seus olhos quentes, um olhar de força, amor.
Olhos que sempre tiveram por quem chorar, um olhar que se confunde com seus pecados eternos.