segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quem liga paras infinitas Terras??

Há crise. A todo o momento, algo ou alguém, entra em crise e se perde no estupor da situação. Se deixa levar pela necessidade de destruição que se encontra na crise e ignora a essência dela. A mais sublime habilidade de recriação, de criação em si eu diria. Criar algo de onde antes apenas vazio existia. Começar novamente com intuito diferente algo que antes fora até enfadonho.


“Mas a crise é algo bom.” Me disse uma vez um professor. Palavras que me fizeram pensar por dias. Como poderia ser boa a mais destruidora das criações humanas? Hoje tudo faz um sentido avassalador. A necessidade das pequenas escolhas diárias perde sua lógica em tempos de crise. Você faz grandes escolhas, escolhas enormes, que definirão se você vai continuar sendo você mesmo, e a crise vai ter só uma característica destruidora, ou se você vai mudar junto dela, e criar um novo universo de particularidades proeminentes de sua mudança.

Há uma predisposição para negar as crises constantes que vemos no nosso dia-a-dia. Crises nos super mercados, crises do capitalismo, crises emocionais, crise na reformulação das revistas em quadrinhos. Sempre que há uma mudança de panorama temos o hábito de chamar de crise e apontar a mesma como algo negativo. Quando vemos coisas boas acontecendo chamamos de: crescimento, evolução. Por que ignoramos a crise nesses momentos quais explicariam sua essência com mais proeminência?

A crise deve ser vivida. Não negada, menos ainda ignorada. Devemos aproveitar a crise. Termos crises diárias, a toda hora, umas 6 por minuto se possível. Uma crise bem aproveitada lhe deixa em um estado de felicidade inexplicável quando termina. Imagine, o corpo da pessoa amada junto ao teu, o perfume se espalhando, o calor cada vez maior, até que o êxtase total e ao mesmo tempo. O prazer de usufruir de maneira adequada a uma crise se assemelha bastante a isso.

Que venham as crises. Estaremos aqui de peito aberto a esperar por elas. Que as infinitas terras caiam, ou identidades se destruam, mesmo que uma crise autodenominada final venha. Sabemos que uma conseqüência há de existir e podemos ser objetos dessa ação ou objetivar a mesma.

domingo, 25 de abril de 2010

Temores doutro mundo (2)

A morte é o derradeiro fim. Mas e se mesmo após o Fim a matéria continuar a aprisionar minha essência? Como seria estar morto e ao mesmo tempo preso a vida de todos quais lhe foram importantes? Até mesmo observar sua própria decomposição.


É tão leve, tão simples não ter mais um corpo. Finalmente entender o que significa a força do pensamento. E ela é uma via de mão dupla. É tão fácil fazer as coisas quando nelas penso. Mas ao mesmo tempo difícil controlar aquilo que penso e não quero fazer.

Mas o pensamento é mais forte e mais influente quando vêm de outra pessoa. Uma dessas pessoas qual você deixou para traz. Quando minha mãe pensa em mim, instantaneamente me materializo ao seu lado para ver seu pranto. Em seguida, sou transportado ao lado de um dos meus irmãos que se lembra de mim enquanto pede minha cerveja favorita e percebe que não vou bebê-la ao seu lado. Novamente movo-me ao local onde uma criança ao olhar uma foto antiga questiona-se a mãe quem é essa pessoa. Lágrimas rolam.

E quando ninguém mais pensa na minha antiga existência, eu retorno a minha carne pútrida. Vejo a degeneração do que outrora foi algo. Ver minha carne sendo decomposta por vermes e criando vida em escalas que nunca havia imaginado poder criar. Deixar de me alimentar da terra para virar seu alimento.

O tempo perde a sua lógica. Não sou mais lembrado com a mesma freqüência pelos que me foram queridos. Minha mãe não mais me clama aos prantos, meus amigos não tem mais tempo de parar no nosso bar, aquela criança cresceu sem me conhecer.

sábado, 24 de abril de 2010

Temores doutro mundo

Há muito tempo sonhei com a possibilidade de futuro que mais medo me causou até o presente momento. Sonho qual me fez acordar pálido e sem fala. Inebriou minha mente por dias a finco. Finalmente tomo coragem para transcrevê-lo, não que seja o melhor momento para tal, mas finalmente algo se tornou mais temeroso em minha mente que esse futuro.

O sol queimava enquanto andava do ponto de ônibus até minha casa. Cozinhava dentro do paletó, o calor era insuportável, mas faltava tão pouco para vê-la novamente. Finalmente chegara ao portão e o abria. Um rangido seco, de falta de óleo nas dobradiças, foi o que lhe chamou atenção. Ela estava ali, agachada colhendo morangos na nossa horta, quando levantou repentinamente e correu em minha direção. Levantei-a e abracei com toda a força que consegui reunir. Meu amor era tamanho e a falta que sentia era tanta que não consegui conter as lágrimas. Seus cachos ao vento, sua pele alva, sua fita amarela no cabelo. Era tamanha a perfeição que a dor voltava sempre que a via. E dela nada conseguia eu esconder, ela sabia que a sua importância pra mim era e sempre seria tamanha. E de maneira tão especial.

-Então meu amor, me fala como foi seu dia. Como foram as aulas de kendo?
-Foi tudo bem, pai. Aprendi um novo golpe e o sensei disse que to quase merecendo a segunda katana.
- E a escola minha pequena?
-Tudo tranqüilo, não teve nada demais. Vamos fazer o jantar?
-Vamos sim. Já sabe o que quer comer?
-Lasanha!
-Então vai ser lasanha.
-Você me lembra tanto sua mãe. Ela adorava lasanha.
-Eu sei papai, você sempre me fala quanto minha mãe era perfeita. E pra ser perfeita tem que gostar de lasanha.
-Verdade. Agora desce que você ta ficando pesada Sara.

A vi correndo na minha frente, no seu vestido branco, seus cabelos bagunçados. Tenho tanto orgulho da força que você tem minha pequena. Sem você não sei como seria viver, sabendo que perdi o grande amor da minha vida, se não houvesse você pra preencher o vazio no meu coração. Provavelmente não haveria um eu hoje. Teria me perdido a muito. Te amo tanto minha pequena.